OS MÁRTIRES MODERNOS DO CRISTIANISMO
Vítimas do Islã radical – Os mártires modernos do cristianismo
Muçulmanos da Indonésia protestam, bradando suas espadas e mostrando que estão prontos para a “Jihad” (Guerra Santa), durante uma manifestação no complexo esportivo Senayan, em Jacarta (Indonésia). Os muçulmanos se reuniram para discutir sobre uma guerra contra a minoria cristã, depois que o governo ordenou o final da briga entre extremistas nas provícias de Maluku
Juliane Von Mittelstaedt, Christoph Schult, Daniel Steinvorth, Thilo Thielke, Volkhard Windfuhr
A ascensão do extremismo islâmico coloca uma pressão cada vez maior
sobre os cristãos que vivem em países muçulmanos, que são vítimas de
assassinatos, violência e discriminação. Os cristãos agora são
considerados o grupo religioso mais perseguido em todo o mundo.
Paradoxalmente, sua maior esperança vem do Islã politicamente moderado.
Kevin Ang é mais cauteloso hoje em dia. Ele espia ao redor, dá uma
olhada para a esquerda para a longa fileira de lojas, e depois para a
direita em direção à praça, para checar se não há ninguém por perto. Só
então o zelador da igreja tira sua chave, destranca o portão, e entra na
Igreja Metro Tabernacle num subúrbio de Kuala Lumpur.
A corrente de ar vira páginas queimadas da Bíblia. As paredes estão
cobertas de fuligem e a igreja cheira a plástico queimado. A Igreja
Metro Tabernacle foi a primeira de onze igrejas a serem incendiadas por
muçulmanos revoltados – tudo por causa de uma palavra: “Alá”, sussurra
Kevin Ang.
Tudo começou com uma questão – se os cristãos daqui, assim como os
muçulmanos, poderiam chamar seu deus de “Alá”, uma vez que eles não têm
nenhuma outra palavra ou língua à sua disposição. Os muçulmanos alegam
que Alá é deles, tanto a palavra quanto o deus, e temem que se os
cristãos puderem usar a mesma palavra para seu próprio deus, isso
poderia desencaminhar os fiéis muçulmanos.
Durante três anos isto era proibido e o governo confiscou Bíblias que
mencionavam “Alá”. Então, em 31 de dezembro do ano passado, o mais alto
tribunal da Malásia chegou a uma decisão: o deus cristão também poderia
ser chamado de Alá.
Os imãs protestaram e cidadãos enfurecidos jogaram coquetéis Molotov
nas igrejas. Então, como se isso não bastasse, o primeiro-ministro Najib
Razak declarou que não podia impedir as pessoas de protestarem contra
determinados assuntos no país – e alguns interpretaram isso como um
convite para a ação violenta. Primeiro as igrejas foram incendiadas,
depois o outro lado revidou colocando cabeças de porcos na frente de
duas mesquitas. Entre os habitantes da Malásia, 60% são muçulmanos e 9%
são cristãos, com o restante composto por hindus, budistas e sikhs. Eles
conseguiram viver bem juntos, até agora.
É um batalha por causa de uma única palavra, mas há muito mais
envolvido. O conflito tem a ver com a questão de quais direitos a
minoria cristã da Malásia deve ter. Mais que isso, é uma questão
política. A Organização Nacional dos Malaios Unidos, no poder, está
perdendo sua base de apoio para os islamitas linha dura – e quer
reconquistá-la por meio de políticas religiosas.
Expulsos, sequestrados e mortos
Não só na Malásia, mas em muitos países em todo o mundo muçulmano, a
religião ganhou influência sobre a política governamental nas últimas
duas décadas. O grupo militante islâmico Hamas controla a Faixa de Gaza,
enquanto milícias islamitas lutam contra os governos da Nigéria e
Filipinas. Somália, Afeganistão, Paquistão e Iêmen caíram, em grande
extensão, nas mãos dos islamitas. E onde os islamitas não estão no poder
hoje, os partidos seculares no governo tentam ultrapassar os grupos
mais religiosos assumindo uma tendência de direita.
Isso pode ser visto de certa forma no Egito, Argélia, Sudão,
Indonésia, e também na Malásia. Embora a islamização frequentemente
tenha mais a ver com política do que com religião, e embora não leve
necessariamente à perseguição de cristãos, pode-se dizer ainda assim
que, onde quer que o Islã ganhe importância, a liberdade para membros de
outras crenças diminui.
Há 2,2 bilhões de cristãos em todo o mundo. A organização
não-governamental Open Doors calcula que 100 milhões de cristãos são
ameaçados ou perseguidos. Eles não têm permissão para construir igrejas,
comprar Bíblias ou conseguir empregos. Esta é a forma menos ofensiva de
discriminação e afeta a maioria desses 100 mil cristãos. A versão mais
bruta inclui extorsão, roubo, expulsão, sequestro e até assassinato.
Margot Kässmann, que é bispo e foi chefe da Igreja Protestante na
Alemanha antes de deixar o cargo em 24 de fevereiro, acredita que os
cristãos são “o grupo religioso mais perseguido globalmente”. As 22
igrejas regionais alemãs proclamaram este domingo como o primeiro dia de
homenagem aos cristãos perseguidos. Kässmann disse que queria mostrar
solidariedade para com outros cristãos que “têm grande dificuldade de
viver de acordo com sua crença em países como a Indonésia, Índia, Iraque
ou Turquia”.
Há exemplos contrários, é claro. No Líbano e na Síria, os cristãos
não são discriminados, e, na verdade, desempenham um papel importante na
política e na sociedade. Além disso, a perseguição contra os cristãos
não é de forma alguma um domínio exclusivo dos fanáticos muçulmanos – os
cristãos também são presos, agredidos e assassinados em países como o
Laos, Vietnã, China e Eritreia.
Manifestantes muçulmanos pedem, em Jacarta, “guerra santa” contra cristãos das Molucas.Aprovação tácita do Estado
Os familiares de Bashir não foram os únicos a se mudar para Alqosh à medida que a série de assassinatos continuou em Mosul. Dezesseis cristãos foram mortos na semana seguinte, e bombas explodiram em frente às igrejas. Homens que passavam de carro gritaram para os cristãos que eles podiam escolher – ou saíam de Mosul ou se convertiam ao Islã. Das 1.500 famílias cristãs da cidade, apenas 50 ficaram. Bassam Bashir diz que não voltará antes de lamentar a morte de seu pai e seu irmão em paz. Outros que perderam totalmente a esperança fugiram para países vizinhos como a Jordânia e muitos mais foram para a Síria.
Em muitos países islâmicos, os cristãos são perseguidos menos brutalmente do que no Iraque, mas não menos efetivamente. Em muitos casos, a perseguição têm a aprovação tácita do governo. Na Argélia, por exemplo, ela tomou a forma de notícias de jornal sobre um padre que tentou converter muçulmanos ou insultou o profeta Maomé – e que divulgaram o endereço do padre, numa clara convocação para a população fazer justiça com as próprias mãos. Ou um canal de televisão pública pode veicular programas com títulos como “Nas Garras da Ignorância”, que descreve os cristãos como satanistas que convertem muçulmanos com o auxílio de drogas. Isso aconteceu no Uzbequistão, que está no décimo lugar do “índice de perseguição” da Open Doors.
Convertidos correm grande risco
Os muçulmanos que se converteram ao cristianismo, entretanto, enfrentam um perigo ainda maior do que os próprios cristãos tradicionais. A apostasia, ou a renúncia ao Islã, é castigada com a morte de acordo com a lei islâmica – e a pena de morte ainda se aplica no Irã, Iêmen, Afeganistão, Somália, Mauritânia, Paquistão, Qatar e Arábia Saudita.
Até no Egito, um país secular, os convertidos atraem a cólera do governo. O ministro da religião defendeu a legalidade da pena de morte para os convertidos – embora o Egito não tenha uma lei como esta – com o argumento de que a renúncia ao Islã é alta traição. Esses sentimentos fizeram com que Mohammed Hegazy, 27, convertido para a Igreja Cóptica Ortodoxa, passasse a se esconder há dois anos. Ele foi o primeiro convertido no Egito a tentar fazer com que sua religião nova aparecesse oficialmente em sua carteira de identidade expedida pelo governo. Quando seu pedido foi recusado, ele tornou o caso público. Inúmeros clérigos pediram a sua morte em resposta.
Os cópticos são a maior comunidade cristã do mundo árabe, e cerca de 8 milhões de egípcios pertencem à Igreja Cóptica. Eles são proibidos de ocupar altas posições no governo, no serviço diplomático e militar, assim como de desfrutar de vários benefícios estatais. As universidades têm cotas para alunos cópticos consideradas menores do que a porcentagem que eles representam na população.
Não é permitido construir novas igrejas, e as antigas estão caindo aos pedaços por causa da falta de dinheiro e de permissão para reforma. Quando as meninas são sequestradas e convertidas à força, a polícia não intervém. Milhares de porcos também foram mortos sob o pretexto de combater a gripe suína. Naturalmente, todos os porcos pertenciam a cristãos.
Mais direitos para os cristãos?
Mas também há pequenos indícios de que a situação de cristãos acuados em países islâmicos possa melhorar – dependendo do tanto que recuarem o nacionalismo e a radicalização do Islã político.
Uma das contradições do mundo islâmico é que a maior esperança para os cristãos parece surgir exatamente do campo do Islã político. Na Turquia, foi Recep Tayyip Erdogan, um ex-islamita e agora primeiro-ministro do país, que prometeu mais direitos aos poucos cristãos remanescentes no país. Ele aponta para a história do Império Otomano, no qual os cristãos e judeus tiveram de pagar um imposto especial por muito tempo, mas em troca, tinham a garantia de liberdade de religião e viviam como cidadãos respeitados.
Uma atitude mais relaxada em relação as minorias certamente representaria um progresso para a Turquia.
Tradução: Eloise De Vylder
Fonte: UOL e DER SPIEGEL SIT www.vozdosmartires.com.br
Fonte: UOL e DER SPIEGEL SIT www.vozdosmartires.com.br
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